sábado, 16 de outubro de 2010

O PÚBLICO E O PRIVADO: MASCULINO E FEMININO.

Hegel nos ensinou que a família é o fundamento da sociedade civil. Certamente foi o filósofo que mais aprofundou a relação entre o indivíduo, a sociedade civil e o Estado. A organização familiar nuclear refletia organização da sociedade civil e do Estado.
Em Hegel, o homem possui sua vida substancial no Estado, na ciência e no trabalho, ao passo que a mulher encontra seu destino na moralidade objetiva da família.
No século XVIII já havia uma evidente distinção entre o público e o privado. No entanto, é na Revolução Francesa que a ruptura entre essas esferas se dá de forma distinta e acentuada.
A secularização estabeleceu o antagonismo entre direito e moral, coletivo e individual, ostensivo e íntimo, masculino e feminino, público e privado.
A privatização da civilização se estabelece no núcleo familiar. É na intimidade que se estabelece a vida privada. A separação entre o público e o privado valoriza o privado na esfera doméstica, opondo o homem público à mulher doméstica.
A submissão patriarcal do lugar pré-estabelecido das mulheres na sociedade burguesa teve sua justificativa moderna na separação entre o público e o privado. A “inferioridade” e “fragilidade feminina” justificava sua permanência no espaço doméstico.
A sociabilidade feminina começa a ser modificada a partir da inserção da mulher no mercado de trabalho, na mudança entre sexualidade e reprodução, na crise da família nuclear, nos movimentos feministas que demonstram a possibilidade da mulher participar da esfera pública e ter direitos de fazer as coisas que os homens podem fazer.
A igualdade feminina é uma realidade! No entanto, as relações sociais ainda se estabelecem nos campos simbólicos de dominação patriarcal e sexista. Nas relações estatais, na sociedade civil e, principalmente, na esfera privada.
É na intimidade doméstica que o machismo se cultiva e se expande à vida pública. Nas relações domésticas que se estabelece a divisão “natural” dos papéis, ainda que no simulacro.
A vida doméstica e os papéis sexistas são estabelecidos na intimidade do casamento, por isso essa instituição se tornou tão perversa e culminou por perverter a vida pública.
Tem uma frase da Simone de Beauvoir que diz: Não são as pessoas que são responsáveis pelo falhanço do casamento, é a própria instituição que é pervertida desde a origem.

sábado, 4 de setembro de 2010

Ai de Nós, quem Mandou? publicado em 25 de agosto na Zero Hora

Ai de nós, quem mandou?
Mulheres ganham salários menores do que os dos homens, e líderes feministas seguem lutando para reverter essa injustiça. Mas já não sei se é boa ideia continuar batalhando por igualdade. Depois de ler o resultado de uma recente pesquisa feita pela Universidade de Harvard, fiquei inclinada a pensar que talvez seja melhor manter as coisas como estão. A pesquisa chama-se Schooling Can’t Buy Me Love (Escolaridade não pode me comprar amor) e confirma que mulheres que estudam mais acabam progredindo e, quanto mais bem-sucedidas, menores as chances de se casar. Os homens ainda não estão preparados para abrir mão da superioridade que o papel de provedor lhes confere. E mesmo os mais antenados, que apoiam que suas mulheres sejam independentes, ficam inseguros se elas tiverem cargos de chefia e muita visibilidade. Ganhar dinheiro, tudo bem, mas aparecer mais do que eles já é desaforo.
Beleza. O que vamos dizer para nossas filhas? Estudem, mas fazer doutorado e mestrado é exagero, antes um bom curso de culinária. Tenham opiniões próprias quando conversarem com as amigas, mas em casa digam só “ahã”, para não se incomodar. Usem seu dinheiro para comprar roupas, pulseiras e esmaltes, esqueçam o investimento em viagens, teatro e livros. E, na hora de se declararem, troquem o “eu te amo” por “eu preciso de você”, “eu não sou ninguém sem você”, “eu não valho meio quilo de alcatra sem você”. Homens querem se sentir necessários. Só amados não serve.
Que encrenca que as feministas nos arranjaram. Estimularam o pensamento livre, a autoestima, a produtividade e a alegria de trilhar um caminho condizente com nosso potencial. De apêndices dos nossos pais e maridos, passamos a ter um nome próprio e uma vida própria, e acreditamos que isso seria excelente para todos os envolvidos, afinal, os sentimentos ficaram mais honestos, e com eles os relacionamentos. O amor deixou de ser o álibi para um lucrativo arranjo social. Passou a ser mais espontâneo, e as carências de homens e mulheres foram unificadas, já que todos precisam uns dos outros para dividir angústias, trocar carinho, pedir apoio, confessar fraquezas, unir forças no momento das dificuldades. Todos se precisam da mesma forma, não de formas distintas. Mas há quem defenda que homem só precisa de paparico e mulher de quem tome conta dela, punto e basta.
Nunca imaginei que em 2010 ainda estaria escrevendo sobre isso. Achei que os homens já tivessem percebido o quanto ganham em ter uma mulher inteira a seu lado, e não um bibelô. Acreditei que a competitividade tivesse dado lugar a um companheirismo mais saudável e excitante, onde todos pudessem se orgulhar dos seus avanços e se apoiar nas quedas, mas que iludida: isso é coisa pra meia dúzia de emancipada, filha. Essas mulheres aí que não cozinham, não passam, não lavam, só evoluem, essas não são exemplo pra ninguém, são umas coitadas de umas infelizes que pagam as contas e ainda se acham divertidas, se fazem de inteligentes, querem bater perna em Nova York, pois vão arder no fogo do inferno, vão amargar na solidão, vão se arrepender de ter lido aquela Simone de Beauvoir, vão morrer abraçadas aos seus laptops, aqui se faz, aqui se paga, escreve aí. Tamo ferrada.

sábado, 31 de julho de 2010

Democracia e Direitos

A democracia surge dos princípios de liberdade e justiça e não do Estado de Direito. As constituições modernas, assim como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Declaração dos Direitos Humanos proclamam direitos e princípios éticos e morais que permitem a utilização desses direitos contra o Estado.
Assim, a democracia não se separa dos direitos, tampouco é reduzida ao governo da maioria, pois a idéia de bem comum atrela-se ao utilitarismo.
A vida política é feita de oposição entre decisões políticas e jurídicas que favorecem os grupos dominantes e o apelo a determinada moral social que defende os interesses dos dominados ou minorias e é escutado porque contribui para a interação social (TOURAINE).
Portanto a democracia não pode ser reduzida ao procedimentalismo estatal, tampouco aos interesses individuais.
Não se pode pensar que um governo é democrático porque seu representante foi eleito pelo povo. Hugo Chavez foi eleito pelo povo, Hitler ganhou uma eleição.
Para a democracia é indispensável a recusa de toda essencialidade do poder.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

"Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: Dar voltas.'' Saramago

domingo, 11 de julho de 2010

Não se nasce mulher: torna-se.

Simone de Beauvoir

Emergência Feminista

Dois casos de morte de mulheres estão na mídia no país: o caso da advogada paulista e da ex-namorada do jogador de futebol.

Ambos tornaram notório o machismo que se vive no Brasil e na América Latina. Milhares de mulheres sofrem todos os dias agressões físicas de seus namorados, maridos, companheiros,...

No entanto a mídia tem discutido a questão dos jogadores de futebol e o fato de eles serem suscetíveis às mulheres que almejam lhe dar um "golpe". Dá-se espaço na mídia para a “culta” opinião dos jogadores de futebol.

Isso demonstra a gravidade do problema do machismo no país. Ao invés de discutirmos as raízes culturais e as questões do feminismo, estamos justificando comportamentos machistas e sexistas.

O machismo é a barbárie! Simone de Beauvoir, no livro O segundo sexo, denúncia as raízes culturais e sociais da desigualdade sexual, no qual as teorias feministas passam pela necessidade de compreensão do universo no qual a mulher está inserida a partir da construção social da condição.

Da década de 60 pra cá, permanece a hierarquia mascarada pela diferenciação de papéis. Essa diferenciação é cultural, social e precisa ser modificada.

A discussão pública sobre as questões que envolvem machismo e feminismo é emergente.

O comportamento masculino tem se estabelecido na visão midiática, não havendo discussões nem incentivo às ações sociais e cívicas do feminismo.

domingo, 27 de junho de 2010

Volta ao Blog


Depois de algum tempo sem escrever no blog e praticamente abandoná-lo por diversas razões pessoais, decidi voltar a escrever e compartilhar as minhas angústias sobre política e democracia.
No Brasil estamos vivendo um ano de decisão e escolhas de governantes. Isso é democracia?
Apenas escolher quem governa é democracia?
A morte de Saramago me deu uma sensação de que estamos de alguma forma órfãos de lutas e críticas sobre a Democracia e a Política mundial. E permaneceremos nessa orfandade. " Antes estavas, agora já não estás".
Em uma conferência sobre Democracia, Saramago disse:

" Tudo se discute nesse mundo, menos a democracia. A democracia está aí como uma espécie de santa de altar, da qual já não se espera milagre, mas que está como uma referência de democracia.
Não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia seqüestrada, condicionada, amputada.
Porque o poder do cidadão, o poder de cada um de nós limita-se na esfera política a tirar um governo de que não se gosta e colocar um outro que talvez se venha a gostar, nada mais.
Mas as grandes decisões são tomadas numa outra esfera que todos sabemos qual é.
As organizações financeiras internacionais (FMI), as organizações mundiais de comércio, os bancos mundiais, tudo isso. Nenhum desses organismos é democrático e portanto quando mexe com o poder, como continuar a falar de democracia, se aqueles que efetivamente governam o mundo não são escolhidos democraticamente?
Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Os povos? Não. Onde está então a democracia?"