segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A Emergência de ser Sujeito

Na racionalidade cartesiana da modernidade o sujeito foi reduzido ao indivíduo, diante da transformação da sociedade em produção e consumo de massa. A separação do sujeito dos objetos tornou-se possível pela eficácia da racionalidade instrumental dominada pela técnica e pela ciência. A visão demasiado racionalista ocultou o sujeito humano enquanto ser de liberdade e criação.
Paradoxalmente, a modernidade se caracteriza pela liberdade humana, uma vez que a passagem para a modernidade não significa a passagem de um mundo de múltiplas possibilidades para o mundo da razão, ao contrário, ela triunfa pela busca da não conformidade de um mundo medieval-feudal para um mundo múltiplo de possibilidades, no qual os Direitos do Homem traz consigo a liberdade e a autonomia dos sujeitos à própria vida.
Assim, continuamos a chamar de modernidade o que é a destruição de uma parte essencial dela mesma. Não existe modernidade a não ser pela interação crescente entre sujeito e razão, entre a consciência e a ciência. A idéia de que era preciso renunciar o sujeito para que a ciência triunfasse, que era preciso sufocar o sentimento e a imaginação para libertar a razão, e que era necessário esmagar as categorias sociais identificadas com as paixões, mulheres, crianças, trabalhadores e colonizados, sob o jugo da elite capitalista identificada com a racionalidade, foi uma imposição!
A imagem da modernidade ficou por muito tempo ligada à idéia de renúncia aos prazeres e à criatividade em nome de uma sociedade centrada na produção do trabalho, mantendo-se um forte elo entre modernidade e racionalização. Essa relação é perceptível na obra de Weber sobre as relações entre o protestantismo e o capitalismo.
No entanto, o sujeito ultrapassa a concepção de indivíduo racional, não é possível despersonalizar o sujeito à própria razão.
O mundo moderno não é um mundo de complexidade reduzida ao indivíduo, mas é cada vez mais ocupado pela referência a um Sujeito que está liberado, que coloca como princípio do bem o controle que o indivíduo exerce sobre suas ações e sua situação, o que lhe permite conceber e sentir seus comportamentos como componentes da sua história pessoal de vida e de conceber a si mesmo como ator. O sujeito é a vontade de um indivíduo agir e de ser reconhecido como ator.
Em princípio somos todos indivíduos e só nos tornamos sujeitos a partir do reconhecimento social.
Somos freqüentemente atingidos por esta doença da civilização. Por um lado, vivemos um individualismo narcisista; por outro somos tomados pela nostalgia do ser sujeito.
Enquanto o indivíduo se fragmenta nas múltiplas realidades, revela-se fragilizado e submisso à cultura das indústrias de comunicação de massa. O sujeito passa pela idéia de resistência ao mundo impessoal do consumo ou ao da violência e guerra. O sujeito nunca se identifica consigo mesmo, mas se situa na ordem dos direitos e dos deveres, na ordem da moralidade,...
Somos continuamente desintegrados, fragmentados e seduzidos, passando de uma situação a outra, de uns estímulos a outros. Perdemo-nos na multidão de nossas situações, de nossas reações, de nossas emoções e de nossos pensamentos. O sujeito é um chamamento a si mesmo, uma vontade de retorno a si mesmo, em sentido contrário à vida ordinária.
O sujeito não se reduz a ele mesmo na sua própria experiência imediata. A defesa dos cidadãos frente aos arbítrios do Estado é uma defesa do sujeito, daqueles que não suportam ser considerados como recursos humanos passíveis de ser utilizados eficazmente a serviço do Estado ou da empresa.
Enquanto o indivíduo se situa na ordem da experiência, do desejo e da percepção, o sujeito se constitui no seu duplo que é a ordem do direito a ter direitos, de fazer com que todos tenham direitos.
O sujeito, ao contrário dos indivíduos, só se configura pelas ações coletivas, se reforça pelas instituições e pela luta por grandes causas.
O sujeito é sempre grandioso!