quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O eucalipto e a desmaterialização da economia

O eucalipto e a desmaterialização da economia
Sebastião Pinheiro
Na África, mais precisamente na região do interior da Angola, as tribos e clãs ao não possuírem escrita transmitiam sua memória para os descendentes através das árvores. Cada Família tinha uma árvore, que contava a história para as crianças, através dos mais velhos. Assim a memória passava de geração para geração e construía o passado de todos.Um sacerdote metodista inglês chegou e achou aquela atitude social religiosamente praticada como animista e mandou cortar todas as árvores. Logo, a comunidade dispersou-se e finalmente destruiu-se, por não ter mais referências.Aqui no Espírito Santo, o Sr. João Martins contou que seu avô para evitar que se cortassem todas as árvores de valor começou a colocar o nome das crianças que nasciam nas árvores. Hoje ele herdou não só a memória, mas um patrimônio invejável.I - EMPRESA VERSUS ESTADOO respeitável cientista Walter Lima nos diz, em parecer, que as florestas de produção ou matérias-primas são atividades econômicas para empresários e que a restauração de ecossistemas é função de governos. O sábio Paulo de Tarso Alvim foi além e disse que ninguém vai se preocupar com atividade que não dê lucros. Há uma contradição espacial na fala de ambos os mestres, funcionários públicos, pois entre os escandinavos, canadenses, japoneses e norte-americanos, as florestas são manejadas desde muitos e muitos séculos, sem que isto seja de interesse de empresários apenas ou de governos somente. Uma floresta é um recurso natural renovável, logo eterno, perene.Uma floresta, seja para a finalidade que for, tem diferentes enfoques entre países autônomos e periféricos. Entre eles as florestas são sujeito de políticas públicas, ao passo que entre nós, elas são objetos.Por isso, apesar das leis, das normas etc., as universidades ensinam absurdos como os antes expostos, a partir da visão heteronômica, utilitária e reducionista.Vamos trabalhar as afirmações daqueles mestres, contextualizando-as ao longo do tempo e "em novo" espaço, dentro de uma retrospectiva de 33 anos e uma projeção de 66 anos.Porque adotamos um período de 99 anos?Simplesmente porque este é o espaço de responsabilidade de uma empresa. Assim, separamos dos aspectos de uma floresta, que é um recurso natural renovável e perpétua, uma característica consoante com o Estado Nacional.Não podemos confundir empresa com Estado Nacional, pois a empresa visa lucro. Já os objetivos do Estado Nacional são outros e completamente diferentes. É importante ressaltar isto, porque, hoje, com as ondas de globalização e neoliberalismo, muitos governos o ignoram, por incompetentes. O Estado Nacional visa servir a todos através da cidadania, o que não é um serviço, negócio ou dádiva. É função do Estado controlar a todos dentro da lei e da norma com igualdade. Há mais ou menos 33 anos atrás, uma crise começou a assolar o mundo: a impossibilidade de crescimento infinito em um mundo finito. O Clube de Roma recebeu o relatório do casal Meadows intitulado: "Os limites do Crescimento".Até àquele relatório, o monopólio da produção do papel de imprensa, celulose e derivados era quase que exclusivamente de empresas escandinavas ou canadenses, onde os bosques eram manejados sustentavelmente.A demanda por papel e celulose crescia e as empresas do Norte contudo, percebendo o impasse, anteciparam-se e migraram seus negócios para o hemisfério Sul. As empresas que no Norte tinham pequeno porte, ao cruzar a linha do Equador tomaram uma dimensão assustadora.Isto deveu-se a febre desenvolvimentista que passou a imperar nos países subdesenvolvidos, que passaram a ser chamados de países em desenvolvimento. Este período é o auge da Guerra Fria e a grande maioria das empresas migrantes instalam-se nos locais mais absurdos.A crise mundial da natureza leva à Conferência de Estocolmo. Uma nova Ordem Internacional começa a equacionar-se, mas as grandes empresas antecipam-se e transferem as empresas problemas. Um exemplo é a criação da Adela, que instala a Cia de Celulose Borregaard, de origem norueguesa, no Rio Grande do Sul. Ela estranhamente começa a plantar eucalipto em terras de arroz irrigado, com isenção total de impostos, destruindo as economias municipais, e a tornar o ar da região metropolitana irrespirável para seus 2 milhões de habitantes.Desconhecia-se Zoneamentos Agro-ecológicos. A falta de visão do governo compromete a função do Estado Nacional e dilapida a riqueza da sociedade, embora o PIB do Estado cresça.II - ECONOMIA VERSUS CREMATÍSTICAEstes governos autoritários, sem cosmovisão, ao não conhecerem autonomia, desconhecem a diferença entre valor econômico e crematístico.Estes termos foram criados por Aristóteles, que se preocupou em diferenciar o valor econômico do valor crematístico, em sua obra "A Política". Para todos nós, o termo "oikos" dá origem tanto à ecologia (estudo da casa, ambiente) como à economia (administração da casa, ambiente), mas a diferença entre ambos é o mero aspecto pecuniário, que vai agregado a muitas atividades econômicas.Ele separou a economia da crematística de forma simples: economia significa utilização (é perene), já a crematística, aquisição (é temporário).Crema em grego quer dizer moeda e a função da moeda é adquirir. Contudo moeda não quer dizer riqueza, ela é apenas uma convenção. Lembremos do rei Midas que transformava em ouro tudo o que tocava. Seu dom era uma maldição, pois ele morreu de fome, já que não podia comer ouro.Uma plantação de árvores (eucaliptos) tem valores crematísticos e uma floresta tem valores crematísticos e econômicos. E ambos são muito diferentes. Nos últimos 33 anos, a natureza, o meio ambiente passou a ser incorporado pela ordem vigente à economia dos países do Norte, e à crematística, nos países do Sul, embora os governos não saibam a diferença entre ambas.O pior é que, muitas vezes, os governos crêem que há uma migração econômica com a chegada de empresas do Norte, mas o que vêem são valores crematísticos. E os valores que saem daqui para lá transmutam-se em valores econômicos. É assim que se subfatura a natureza local.Por aquela época (anos 70) havia, entre nós, abundância de natureza e qualidade de vida, mas era ensinado nas escolas que a floresta natural era um empecilho, que, quando queimada, se estava fazendo uma benfeitoria.Após o incêndio, para por gado ou eucalipto, o banco financiava e até subsidiava, fosse o Banco do Brasil, o Banco da Amazônia (Basa) ou o interesse de outros agentes dos bancos internacionais.É assim que o espaço natural, ocupado pelos indígenas, posseiros ou pequenos agricultores familiares, será usurpado pelo grande empreendimento crematístico, mas não econômico e o valor desta moeda migra para a economia do Norte, que usufrui desta heteronomia e ignorância.III - NATUREZA VERSUS MEIO AMBIENTEEm 1972, a ciência e tecnologia estavam dando o grande salto com a criação de organismos transgênicos e clonados. A natureza será a base para a revolução biotecnológica.Nesta época, vivíamos a Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente. Logo, plantaremos eucaliptos clonados, mas nem saberemos o que isto significa ou que eles só tem uma utilidade: produção de celulose.Induzem-nos a questionar, temer e renunciar à tecnologia. Tecnologia não é boa ou má, ela causa impactos, impactos positivos ou negativos. É função do governo controlar os impactos negativos determinando sua atenuação, ao mesmo tempo que estende os positivos ao máximo.Mas, qual seria a perspectiva do valor do eucalipto, 20 anos depois da Conferência de Estocolmo, quando estávamos em plena Conferência do Rio de Janeiro, a Rio 92, assinando a Convenção da Biodiversidade?Nós nem sabíamos que isto estava ocorrendo em 72 e nossa posição em Estocolmo foi uma posição nortista e, no Rio, ficamos no deslumbramento da nossa riqueza crematística com a biodiversidade.As economias industriais autônomas e, por tal, democráticas, estavam já projetando os próximos 66 anos.Os países industriais promoveram uma "desmaterialização" de nossa economia com uma antecedência de 30 anos. Uma desmaterialização muito diferente do conceito que agora é aplicado, mas com a mesma finalidade.IV - REAL VERSUS VIRTUAL Os partidários da ausência de limites ao crescimento na expansão da economia nos anos 80 começaram a perceber a evolução das economias industriais, que pressagiavam uma progressiva independência do crescimento econômico com respeito ao consumo de energia e recursos naturais. Este processo foi batizado de desmaterialização da economia.Podemos dividí-lo em três partes:a) terceirização,b) diminuição de insumos e energia, ec) descontaminação e menores resíduos, resultado de uma política ambiental em relação ao Produto Nacional Bruto.Vejamos um exemplo. Para produzir celulose é necessário: terra, sol, chuva e trabalho. Isto faz com que a celulose colhida tenha o preço relativo 1,00. Mas na sociedade industrial as empresas criaram fertilizantes, agrotóxicos e outros insumos e o preço desta celulose subiu para 1,20. Depois esta celulose foi branqueada com cloro e seu preço subiu para 1,50. Agora esta celulose segue a sustentabilidade, é ecológica, tem o mesmo custo de 1,00, mas, para ser vendida para um grupo seleto, precisa de certificados de garantia ambiental, certificados de traceabilidade, sistema de garantia de qualidade tipo ISO, e custará 1,80. Isto modernamente se chama de "desmaterialização" da celulose.Porque, então, dizemos que houve uma "desmaterialização" com 30 anos de antecedência? Por que a nossa floresta foi destruída para plantar eucalipto e capim, ou seja, terceirizaram a "Nossa Natureza".Economizaram energia, insumos e mão de obra; transferiram para nós os seus resíduos e contaminação ambiental. Nossa abundância foi tornada escassa, por um conceito da matriz anterior que não foi extrapolado dentro da economia no tempo e espaço, para a nova realidade da engenharia genética e transgenia.Para a crematística, algo, para ter valor, necessita ser escasso. A natureza era abundante e patrimônio de todos. Eles a terceirizaram.Naquele início, vimos a criação do IBDF. Era desenvolvimento queimar a floresta e plantar "gmelinas", eucaliptos, capim ou maçãs. Não vimos que o que estava acontecendo era a destruição econômica do patrimônio de todos, com dinheiro público, para a plantação de monoculturas de capim ou eucalipto para a riqueza particular de algumas indústrias.O governo militar usurpador destruía o coletivo nacional para privilegiar o particular internacional.É assim que as terras públicas, indígenas, reservas naturais, pequenas propriedades familiares foram "desmaterializadas" em cumplicidade com os organismos internacionais. Cabe a pergunta: Ficamos com mais dinheiro (crematística)? Ficamos mais ricos (economia)? Ficamos mais felizes (socialmente)?Não, apenas conhecemos o valor absoluto da miséria e suas mazelas. Qual é então a projeção para o "Nosso Futuro Comum"?V - SEIS VERSUS MEIA DÚZIAHá dez anos atrás, o mundo foi convocado para uma nova Ordem, a da Biotecnologia, onde a biodiversidade passou a ser o valor econômico. Uma convenção foi proposta no Rio de Janeiro e a natureza, repetimos, passou a ter valor. Um ano antes fora criado o Ibama, substituindo o IBDF, mas com a mesma ideologia anterior. Assim, a Mata Atlântica dos colibris e orquídeas, agora se materializa como um valor crematístico.Contudo, para o investidor da época de setenta, que se instalou mal e que quadruplicou seu empreendimento, ela continua se constituindo em estorvo, pois ele projeta sua expansão sobre a selva tropical úmida e o faz através da cumplicidade com os governos e seus burocratas, que, muitas vezes, deixam de ser temporariamente empregados, para serem funcionários públicos defensores dos interesses particulares da empresa.É assim que, na calada da noite, se organiza o fomento ou se cria meios de drenagem de riqueza para o Norte rico.Por um lado, os defensores aduzem que não foi a empresa que destruiu a floresta, que foi o ciclo do café, do gado etc., embora isto seja diferente. Mas para garantir o funcionamento da empresa mal instalada são obrigados a desviar água de um rio nacional, usando o governo municipal como álibi.Mas, qual é o futuro deste espaço que continua biológica e legalmente sendo um território da Mata Atlântica?Qual é o novo valor econômico, não crematístico, do espaço da Mata Atlântica restaurado?A empresa faz tudo para que este espaço continue sendo enxergado na ótica anterior, como mero objeto, e nós como seres utilitários, consumidores e crematísticos por salários e serviços inexoráveis.TRANSPARÊNCIA - LYPTUSVisto em um plano antagônico, onde somos sujeitos, toda a área dedicada à compra de terras, plantios, cultivos e criação deveria, a exemplo do que acontece em todo o mundo, ser disciplinada para evitar abusos, pressões, corrupções e situações assemelhadas.Se, hoje, a palavra chave do planeta é sustentabilidade, uma pergunta aos empresários de celulose: Qual é a sustentabilidade de um empreendimento sobre o espaço da Mata Atlântica nos próximos vinte anos, levando em conta que países da União Européia (Itália, Espanha, Grécia e Portugal) concorrem com eucalipto e celulose de eucalipto?No Rio Grande do Sul, uma empresa "desmaterializou-se" para provar que sua celulose não destruía a Selva Amazônica, gastando muito dinheiro e até contratando um ecologista com prêmios internacionais. Ele confirmou sua vinda, mas alegou problemas de saúde... Talvez, no dia 27 ele poderá estar aqui; é só receber uma ordem. Seguramente tomará vários "chopinhos"...A pergunta é pertinente, assim como foi pertinente a luta dos movimentos ambientalistas para que o branqueamento da celulose abandonasse o cloro, modificando o processo e suprimindo o uso de cloro e dióxido de cloro, pois, diariamente, milhares de quilos de compostos AOX e VOX eram liberados nos efluentes.Foram as ONGs que, com antecedência de duas décadas, impuseram o "novo" da celulose sem dioxinas.Entretanto, não esperavam elas que as empresas usassem dinheiro público para adaptar-se ao mercado. Isto também é uma vergonhosa desmaterialização.O impacto de 25 anos de efluentes com dioxinas e organoclorados alguicidas na bacia pesqueira mais importante do país, quem avaliou, quem mediu?Ninguém se preocupou em poupá-la, preservá-la, protegê-la.VI - PÚBLICO VERSUS PRIVADOQual é o maior valor econômico: a empresa ou a pesca?Contudo os pescadores não tem poder, o poder que torna a empresa superior ao governo e o faz refém de seus interesses.Qual é mais sustentável a empresa ou a pesca?A empresa e governo sabem desta destruição do patrimônio de todos, mas não há respostas, pois somos todos meros objetos.Mas, se fossemos britânicos, como Sua Alteza o Príncipe de Gales ou noruegueses, como o genro de Sua Realeza, o Sr. Lorentzen, qual seria este valor?Esta é a diferença, hoje, entre a nova ordem no Norte e a nova ordem no Sul. Lá, há um poder popular baseado em decisões tripartistes; aqui, instaura-se uma ditadura civil através de Medidas Provisórias para fazer o que o Norte quer.Voluntariado, Solidariedade e Sustentabilidade são os termos crematísticos que o governo usa para iludir a cidadania e a coletividade.Na atualidade, quando o mercado passa a desmaterializar a economia para agregar mais valor e poder ao capital e à tecnologia e criar um maior retorno para a venda de serviços, normalmente, ou melhor, exclusivamente vendidos por consultores do Norte, é que nos deparamos com as metas sociais da Organização Mundial do Comércio (OMC), Banco Mundial e países da União Européia, lembremos que tecnologia não é boa ou má. Ela causa impactos...Agora, é proibido criança trabalhar, mulher receber salário inferior, discriminação humana, religiosa ou poluição ambiental e devastação da natureza.Agora as empresas procuram certificados de qualidade social, ambiental e tecnológica, mas quem amortece os custos é a comunidade pobre do Sul.Muito breve, ouviremos falar de eucalipto orgânico e celulose ecológica. Assim os certificados de sustentabilidade, pureza, social e ambiental abafarão os clamores dos pequenos florestadores familiares ou cooperativados em servidão.Eles terão cada vez menos importância, com o valor do trabalho desmaterializado pelos valores crematísticos dos certificados e serviços. Cada vez menos vale a natureza e o homem, ambos objetos crematísticos da economia do Norte.Isto é subliminar. Achamos ruim quando o presidente Bush negou-se a assinar a "Convenção da Biodiversidade". Agora seu filho, também presidente, nega-se a assinar o "Protocolo de Kyoto".Ele quer dar fôlego à economia norte-americana em crise séria de recessão. Vai aumentar os riscos climáticos com o uso de tecnologias obsoletas à base de combustíveis fósseis, já amortizadas. Com isto, ele manterá os absurdos índices de consumismo dos norte-americanos. Nós sequer percebemos que o que o Bush hoje faz com o povo norte-americano, o Norte vem fazendo conosco há mais de quatrocentos anos.Nós aqui temos o "apagão", já há trinta anos anunciado. Desmaterializaram nossa economia através da poupança compulsória de energia. Nós não temos autonomia, seremos "objeto" pelos próximos 99 anos.VII - SUJEITO VERSUS OBJETOÉ nesse momento de crise energética e de crise climática internacional, que vemos o magnífico Projeto Floram, de fixação do gás carbônico atmosférico por reflorestamentos, ser transformado em objeto de especulação financeira e comercial internacional.Os mega-investidores, mais uma vez em conluio com os governos locais, preparam a desmaterialização das economias. Unem-se com as empresas produtoras de gás carbônico e propõem que elas paguem o reflorestamento de áreas onde houver terras e mão-de-obra baratas.Com isso, são criadas "quotas" de pagamento para os reflorestamentos de fixação de gás carbônico, o que permite as empresas continuarem lançando efluentes sem diminuir sua produção e poluição.É assim que a Shell, por exemplo, já têm milhares de hectares no Uruguai e Argentina, onde foram retiradas matas naturais para instalar os "sumidouros de carbono".Entre nós, empresas e governos querem que os "reflorestamento de sumidouros de carbono" sejam feitos em nosso espaço e natureza, mas na verdade subsidiando o custeio e investimento de plantios de eucaliptos, matérias-primas para celulose, através de conluio entre empresas e governos.O dinheiro para tal reflorestamento não sai do Norte, girando e enriquecendo a economia deles, ao passo que ocupa um espaço, pressiona a natureza do Sul.Ganham triplamente, pois: a) podem poluir através das quotas pagas; b) somam uma área plantada para matéria-prima como se fosse amenizar a mudança climática por fixação de carbono e, c) usam o marketing verde, que sua celulose é fruto do projeto de amenizar a mudança climática que eles mesmos promovem.Obviamente que os corruptos recebem sua crema (moeda), mas perdemos triplamente, pois nossos alimentos ficam mais caros ao haver escassez de terras para plantá-los; teremos menos agricultores dedicados à agricultura e perdemos os recursos para a fixação através dos sumidouros de carbono.O mar do Espírito Santo fixa 15 vezes mais gás carbônico que a terra. Não seria mais importante que os "sumidouros de carbono" fossem marinhos? Teríamos mais pesca, mais economia. Contudo, a família Globo quer destruir as algas calcáreas para extrair (minerar) "Lithotamium".VIII - LIBERAR VERSUS CONTROLARÉ aqui que entra o zoneamento agro-ecológico; zoneamento que Rondônia, Amapá e Mato Grosso do Sul foram obrigados a priorizar, com medo de perder investimentos externos.Zoneamento que, por respeito à Mata Atlântica e Bacia Pesqueira, deveria ser priorizado também no Espírito Santo, pois ele é ciência, é geração de trabalho e tecnologia, e prestação de serviços, desmaterializando a economia, para a Humanidade, conforme a Agenda 21.Mas que a empresa de celulose não quer que se desmaterialize, pois ela nos quer meros objetos. Seu eucalipto não é bom ou mau. Ele causa impactos.Por isso, devemos perguntar ao pequeno agricultor, assentado ou indígena e comunidade capixaba: se a empresa fosse obrigada a respeitar e pagar, de fato, que cada hectare com eucalipto recuperasse ou restaurasse três hectares de Mata Atlântica, isto seria bom para quem?Seria bom para a biodiversidade e estamos falando em economia e não em crematística. Seria ótimo para o agricultor que manteria sua renda, autonomia e liberdade. Estamos falando em felicidade, não em riqueza.Mas não sejamos ingênuos. Os governos são heteronômicos, obseqüentes e corruptos para evitar que esta desmaterialização aconteça.A empresa planeja usar o marketing do produto da fixação do gás carbônico, e ela fará as suas reservas, não pela Mata, mas pelo valor crematístico da biodiversidade que irá vender para exploração e tudo continua na mesma e para pior.Usará os agricultores em servidão como objeto de marketing de homem da Mata Atlântica protegido e integrado, de forma muito similar como hoje já ocorre na cultura do fumo, frango, suíno. É o complexo Agro-Industrial-Alimentar-Financeiro, que não pode ter terra ou eucalipto, mas que transfere ao pequeno agricultor familiar - terceirizado - esta função, em servidão aos seus interesses monopsônicos.Quem se posicionar contra seus interesses, como no caso do projeto de zoneamento agroecológico, tem contra si os instrumentos de ódio e relativismo moral.IX - NATUREZA VERSUS MERCADOA água é a crise dos próximos 66 anos. A criação da Agência Nacional das Águas (ANA) dá valor crematístico. Agora a água é uma "commodity".Não seria importante ter-se, a exemplo da África do Sul, um zoneamento hidro-ecológico-climático sobre a economia da água pelo eucalipto nos diferentes municípios do Espírito Santo, principalmente nos banhados pelo oceano, onde se fixa quinze vezes mais gás carbônico e nasce a água doce em crise?. A primeira reação dos segmentos de interesse é dizer que quem pede isto é contra a empresa, contra o progresso.Depois, há uma orquestração vendendo está imagem e muito dinheiro é gasto para que não haja consciência.Quando propusemos um debate franco e objetivo sobre a necessidade do Zoneamento Agro-ecológico, que é o pano de fundo deste Seminário Internacional, o fizemos interessados em debater o tema de forma clara transparente, honrada, inteligente, pois queremos a qualidade e a precaução preconizada na Agenda 21.Na mesa não há temor. Contudo, tememos muito as empresas nas ante-salas do poder, atrás das cortinas e biombos ou junto às eminências pardas, que traficam o poder público.Tememos muito mais a mediocridade que confunde Estado com Governo e os verdadeiros caminhos para a modernidade, sujeito, cidadania e democracia.Descaminhos são subterfúgios de medíocres que fogem ao debate e querem que o Estado Nacional continue sendo seu feudo e balcão de seus negócios, muitas vezes opacos ou escusos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário